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Esboços

Foge de mim enquanto é tempo, a gente ainda tem opção. Você vai ver, vou começar a embaralhar sua cabeça, querer dormir com você uma vez por semana e te arrastar comigo para compras de coisas quaisquer. Eu vou te acompanhar em encontros de amigos e também em encontros chatos, mas não vou rir daquelas piadas idiotas que você vai fazer. Uma ou outra talvez. Eu vou brigar, vou discutir, vou dizer que você é chato, irritante, implicante, insuportável. Vou dizer que eu tinha razão. Mas não vou mais conseguir ir embora. Vou querer almoçar com você qualquer dia no meio da semana, vou reparar o que você precisa e vou segurar sua mão quando estiver triste. Aliás, quando estiver triste vou segurar você inteiro, com apenas alguns dedos apoiados no seu peito e meu beijo no seu rosto. Vou dizer coisas que você quer ouvir e coisas que desejaria que nunca tivessem que sair da minha boca. Vou dançar com você. Te levar para ver o por-do-sol deitado na grama, descobrir as coisas que te fazem feli

Flechada

Eu disse, repeti e repito novamente, quantas vezes for necessário: não quero me envolver seriamente com ninguém. Estou cansada de ouvir histórias que são construídas pela metade, com saídas misteriosas e estoques de segredos. Sim, eu reconheço que existe um mundo inteiro desse tipo lá fora, eu vi com meus próprios olhos, é bem verdade. E não mudei de ideia.  Continuo com medo de andar nesse território e cair justamente numa armadilha bem disfarçada.  É natural que eu não queria andar por lá, não é? É sim. Mas viver fugindo disso não é. Qualquer homem que tenha se aventurado a ganhar mais espaço na minha vida descobriu que não era nada fácil. E basicamente nenhum deles obteve sucesso, diga-se de passagem. Existe uma lista de pré-requisitos necessários para ter alguma chance de conseguir um encontro e outra de requisitos fundamentais para a investidura oficial, mas nunca ninguém chegou lá. A única vez que baixei a guarda e fiz vista grossa para a inexistência de alguns requisitos já

Dinheiro?

Uma garota sentada no chão passava o tempo cortando corações numa folha de papel. Três, um dentro do outro. Já eram quase 6h da manhã, o sol estava despontando. Fazia algumas horas que estávamos acordadas, virando a noite no mesmo projeto. Sabia que seria um trabalho desgastante, mas precisava de dinheiro. Dessa vez eu procurei não imaginar o que se passava no coração dela, mas senti no meu uma carência efervescente, subindo como de um estômago com gastrite matinal. Essa carência, que nunca senti, gritou pra mim que não é o dinheiro que traz prazer. Dinheiro não é tudo. Não é quase nada. Lutar só por ele não é o suficiente. Prazer mesmo é quando você termina um trabalho que te paga bem, mesmo que a tenha feito ficar acordada mais de 20 horas seguidas, e alguém especial te liga para perguntar como você está. Nessa hora você se faz de durona e diz que está tudo bem, mas que adoraria que ele a levasse pra casa. Na verdade, está exausta. Então ele te busca, prepara um café e te acord

Do outro lado

Não adianta eu abrir a porta, não tem ninguém lá. Me pergunto porquê eu gosto desse mistério, porquê eu gosto de saber, de me envolver com essas histórias. Por quê? Por quê? Porque hoje esse é meu alimento. Hoje minha alma é livre da rotina, livre dos personagens do dia a dia e se alimenta de histórias alheias. Quer encontrar uma razão para viver mais, quer encontrar sua história refletida nos olhos de quem conta a própria história agora. Quer se sentir parte. Minha alma quer entender, porque ela sabe, como nenhuma outra, mudar de posição para entender o outro. Mas as pessoas não confiam. Ninguém dá credibilidade para minha alma livre e curiosa, que carrega abraços, sonhos, palavras de conforto e compreensão. Minha alma é da cor dos fortes, dos justos, dos trabalhadores. Minha alma é da cor daqueles que lutam com firmeza e aguardam a vitória. A cor da minha alma se funde a essas almas e me faz chegar perto. É a conexão que eu tenho com aqueles que acreditam que todo seu esforço ser

Incoerência

Então era isso. Eu achava bonito ter um homem que achasse que eu era a mulher mais incrível do mundo. Que meu jeito de falar era engraçado, mas feminino. Que eu era arrogantemente sensual e que nenhum cheiro no mundo era melhor do que aquele na raiz dos cabelos da minha nuca. Que eu era irritante. Que eu não calava a boca. Que em termos de habilidades, eu até cozinhava direitinho, mas estava longe de saber bater de verdade em um homem. Que eu dirigia bem. Que eu era inteligente, mesmo que não cientificamente. Que era esperta o suficiente para ser policial investigativa. Que eu era bagunceira demais para um ser tão pequeno. Que eu era decidida demais para alguém tão delicado e também indecisa demais para alguém tão decidida - que é bem como eu sou. Queria achar um homem que entendesse que por trás de toda essa autoconfiança existe uma mulher frágil que às vezes sonha em dividir um edredom em dias frios. Mas que só pode ser frágil quando tiver alguém do seu lado que vá segurar sua mão e

Umbigo

Eu disse tchau mas ele fez que não entendeu. Eu ignorei-o e fui cuidar da minha vida, que era aquilo que eu queria fazer. Sempre tivemos um bom diálogo, mas ultimamente estava difícil. Antes que as coisas piorassem mais, sumi. Claro que não pretendia que fosse pra sempre, então quando minhas convicções estavam sólidas o suficiente para não estremecerem com os problemas dele, voltei e disse oi. Entre nós, foi como se tivesse passado um dia só, mas a verdade é que eu me reformulei muito esse tempo. Só que ele não acredita. Tem um defeito que ainda não consigo apagar, que é o fato de sempre me preocupar com ele, essa minha missão de protetora. Mas sabe, nós vemos a vida por ângulos diferentes, e aí não chegamos nunca a um acordo sobre o tom do pôr do sol. Eu entendi isso bem antes de ir. Protelei porque não queria que chegasse logo nosso destino. Eu sabia que seria assim, porque este é o destino de todos os fins. Mas não queria aceitar que isso aconteceria com a gente, não com a gente

Despindo-se

Pouco a pouco fui me sufocando com a minha própria sorte. A gente se envolve e nem percebe como essas coisas vão acontecendo e se reproduzindo. Elas tomam forma, ganham vida própria e acabam comandando nossos instintos racionais. Não queria mais isso pra mim, não queria as perguntas sem respostas, o medo do dia seguinte e a apatia da mesma rotina. Não! Eu não queria nem um pouco a apatia da rotina e parecia que era tudo o que eu tinha. E o que eu podia fazer, se eu queria outra vida? Aquela vida na verdade, não era a minha. Entrei em pânico e saí correndo. Tive medo que meus pés ficassem fincados para sempre naquele chão. Fui largando pelo caminho minhas roupas, minhas verdades, minha rotina. Fui me libertando da prisão do dia a dia, das amarras que criei e dos tantos projetos não concluídos. Nada importava mais, eu só queria respirar. Muitas vezes na vida eu me senti desprotegida, mas acho que nenhuma vez foi como essa. Existe um vazio no meu peito, no meu guarda-roupa e na minha

Please don't stop the music

Ouvi aquela música de novo, depois de um mês. Fiquei lembrando do seu sorriso bobo de quem queria disfarçar tal aproximação. Eu queria dançar e queria com você. Esperava que entrássemos em sintonia, que acertássemos os passos e a coreografia. Estava bom curtir você, mesmo com vergonha, mesmo disfarçando. Eu ali, personagem paquera, torcendo para ser verdade, mas não poderia ser. Será que deu tempo de me apaixonar por você nesses poucos dias? Não sei quando começou, só lembro que atravessei a porta e vi você parado na calçada. Um vento passou pelo meu ouvido e eu o senti soprando. Eu não estava procurando por ninguém quando você me olhou. Nunca acredito como é possível essas coisas acontecerem. Talvez por isso elas sempre aconteçam comigo. Você não sabe, mas eu nunca tenho sorte. Pode ser que eu cansasse de você em mais duas semanas. Mas não me importa, se eu gosto de tudo em você agora. Sei que existe uma festa inteira à nossa volta, mas não vejo. Sua mão está em volta da minha c

Fora

Estive fora uns dias e não quis voltar. Mas precisei. A gente percebe que as coisas não vão bem quando mantemos distância e nos sentimos melhor assim. Eu quis sumir por dias, mas não pude. Os poucos que pude não foram suficientes para tudo o que eu queria, mas foram o bastante para saber que algo está errado. A comida não tem graça, os homens não estão interessantes, as lojas não me chamam a atenção e vai fazer uma semana que a revista chegou e eu nem li. Estive fora uns dias e acho que ainda não voltei. Meu corpo veio mas minha alma ficou espalhada pelos cantos onde estive. Meus sonhos ficaram por lá, minhas vontades ficaram por lá e acho que até o brilho infantil do meu olhar deixei nas águas daquele mar. Vivo muitas vidas enquanto a minha descansa ali. Parece que fica esperando para viver depois, preguiçosa, e me deixa aqui assim. Estive fora uns dias e parte de mim ficou para trás. Sei que das duas, uma. Ou eu volto para buscar. Ou nunca mais vivo em paz.

Faxina

Abriu as gavetas à procura de respostas. O quarto já estava virado de cabeça pra baixo, numa daquelas zonas que levam 3 dias pra arrumar. Roupas de todos os tipos sobre a cama, sobre o sofá e penduradas nas portas do guarda-roupa. Papéis e mais papéis debaixo da cama, do lado do sofá e saindo das gavetas. Bolsas mofadas, bolsas usadas e bolsas novas ensacoladas jogadas pelos lados e lá no canto, encostada na parede da varanda, está ela. Com uma caixa de recordações no colo. A pior parte da faxina anual é quando ela encontra a tal caixa de recordações, que passa o ano inteiro na terceira gaveta do criado, mas sempre sai de lá por esses dias. Esse é um dos motivos que a fazem protelar a arrumação: chegar nessa caixa é como abrir as janelas do passado pro vento entrar. Quando ele passa, sai espalhando tudo. E arrumar as coisas de volta sempre leva tempo. Pulseiras de eventos, ingressos de boates, convites de festas de aniversários, papéis de carta, presentinhos e lá em baixo, já esqueci

Reverso - Final

Eu bebo, eu fumo e faço strip particular. Ponto. Continuo saindo toda semana com meus amigos, com novos amigos e estou me divertindo como nunca. Assim como você anda fazendo. Eu sei que também tem saído bastante e curtido muita coisa. Mas eu só queria te perguntar se você é feliz de verdade com essas tantas mulheres. Se a cada noite que seu corpo se satisfaz, sua alma dorme tranquila. Se você nunca pensa em mim. Se elas conseguem o mesmo que eu conseguia só em tocar seu pescoço. Se elas sabem como você gosta de ser beijado e quais tipos de carinho gosta de receber. E eu não estou falando de habilidades físicas, me refiro ao conhecimento de causa. Aquela sensação que retorce no peito, que causa alivio e medo, que retorce de novo e que a gente não encontra em qualquer lugar. Requer dedicação. Será que você reconheceria o beijo delas de olhos vendados? Nenhum amigo seu vai te lembrar isso, mas eu deveria fazê-lo. Agora é tarde. Desligou a gravação e enviou a mensagem. Sabia que ele sent

Reverso - parte I

Abriu as cortinas do quarto, olhou as janelas sequenciais no horizontal do prédio ao lado, empurrou de leve a janela para o vento entrar, acendeu um cigarro e olhou para cama às suas costas. Aquela mesma cama macia que se seria capaz de contar um livro, hoje só contava carneirinhos. Amarrou o roupão deixando o decote aberto, segurou o copo com o terceiro drink e ligou para ele. Era quase uma hora da manhã de domingo, ele certamente estaria acordado. Ela fitava o detalhe da lingerie preta que aparecia pelo decote quando ouviu-o atender do outro lado. Um zumbido aconteceu em sua memória. Fazia barulho onde ele estava mas não importava para ela. Era a hora. Em meio aos tropeços da surpresa, ansiedade e confusão na cabeça dele, ela declarou solenemente que iria enviar uma mensagem de voz e que era para ele ouvir. "Fala agora" "Não consigo, tem muito barulho ai. Preciso ouvir o que eu digo." "Tudo bem, vou aguardar então." Bebeu mais meio drink, desfilou em

Folhas novas

Imagino sim, sem querer. Ela voltando de lá, você voltando pra ela, a vida voltando pra trás. [Mas eu não volto com você.] Ela conta histórias, traz roupa nova e convence você. [Mas ela não muda, só volta com você.] As alegrias voltam, as dores voltam, a vida volta ao passado. [Só que eu não volto com você.] Talvez tenha que ser assim. Eu tropeço um novo alguém, compro roupa nova, mudo de emprego e de carro. O novo, novo de novo. Estabilizo a paisagem, tropeço outro alguém, acho que vale à pena e dispenso mais dois. Durmo fora na sexta, lancho na rua às 3 da manhã, me sinto realizada, independente e poderosa. Aí dou o fora, mudo pra Europa. Tropeço novos alguéns em línguas diferentes, jeitos diferentes, cheiros diferentes. Alugo uma casa com flores na janela, compro um cachorro e começo a trabalhar numa galeria de arte. Aqui você continua com ela, do mesmo jeito, altos e baixos e água morna. Lá eu completo 27 e pela primeira vez em 10 anos, comemoro sem você. Minhas férias a

Depois

De fora a fora, tudo o que se via era caos. Depois que ele passou, todas as coisas estavam bagunçadas, espalhadas por todos os lados sem ordem ou sentido algum. Não havia fome, nem sono, nem cansaço suficiente que os colocassem para dormir. Queriam se dopar, entrar em coma, sumir. Depois que ele passou, todas as coisas ganharam dimensões que não lhes pertenciam. Eram grandes demais e não cabiam, ou pequenas demais e se perdiam. Não havia lógica inteligível. E não importa se estavam na rua ou em casa, no trabalho ou com os amigos. O caos nunca sumia. Era denso, pesado, pegajoso e quase sólido, mesmo que só eles conseguissem vê-lo. Era um caos particular, comprado sem dinheiro e sem pretensão de pagar. Depois que ele passou, não sabiam mais onde cada um parou, onde tudo começou, onde um eram dois e dois cada um. Havia névoa por todos os lados e a visão estava ligeiramente turva. Tentavam a todo custo disfarçar, ignorar o caos e seus efeitos, mas era tudo em vão. Qualquer um que olhas

Poliana

Ela só precisava de conforto e carinho, e simplificava tudo. Poliana era garota de coração grande, de amores incompletos e decepções bem resolvidas. Achava que nunca ia passar por isso de novo. Mas sempre passava. Não foi bem uma escolha dela desenhar o mundo em tons pastéis. Já nasceu assim e não sabia ser de outro jeito. Queria sempre acreditar que havia um amor prontinho esperando por ela em algum lugar e apostava todas as suas fichas nisso. Ela acredita. Samuel apareceu com palavras doces e atenção de sobra e fez Poliana se sentir completamente especial. Ela confiou nele e abriu seu coração. Contou seus medos, seus receios, suas expectativas e os problemas pelos quais passou. Ah que linda! Sentiu que finalmente fora compreendida por um rapaz tão atencioso, tão presente e até um pouco ciumento. Sentiu que nesse cara ela podia confiar. Ingênua Poliana. Se tivesse prestado atenção às histórias que sempre ouve e lê, saberia que homem que ama de verdade protege mas não destrói,

Cortando laços

Nunca imaginei que pensar sobre um sentimento pudesse ser tão devastador assim. Dizem que amar de verdade é fazer o bem sem desejar nada em troca. Por algum tempo eu desejei doar o meu melhor pra ele. Em um aniversário recebi um torpedo dele dizendo que ele tinha passado o dia inteiro pensando em me ligar só pra dizer um Oi, mas nem isso fez. E agora já faz mais de um mês que eu vivo assim. Vez ou outra digito algo e salvo nos rascunhos. Depois apago. Isso sacia um pouco minha vontade. Sei que ele não é certo pra mim e por isso eu fujo. Cada vez que olho para ele agora eu não consigo mais ver aquele cara que amei de uma maneira tão intensa e sem barreiras como amei, independente de qualquer nomenclatura que o nosso relacionamento pudesse ter recebido. Esse era uma detalhe que não tinha importância pra mim, importante era o "a gente". Mas "a gente" nunca existiu. Cada vez que eu penso nele eu tenho certeza que estava errada. Certeza de que tudo o que eu via nele