Depois

De fora a fora, tudo o que se via era caos. Depois que ele passou, todas as coisas estavam bagunçadas, espalhadas por todos os lados sem ordem ou sentido algum. Não havia fome, nem sono, nem cansaço suficiente que os colocassem para dormir. Queriam se dopar, entrar em coma, sumir.

Depois que ele passou, todas as coisas ganharam dimensões que não lhes pertenciam. Eram grandes demais e não cabiam, ou pequenas demais e se perdiam. Não havia lógica inteligível. E não importa se estavam na rua ou em casa, no trabalho ou com os amigos. O caos nunca sumia. Era denso, pesado, pegajoso e quase sólido, mesmo que só eles conseguissem vê-lo. Era um caos particular, comprado sem dinheiro e sem pretensão de pagar.

Depois que ele passou, não sabiam mais onde cada um parou, onde tudo começou, onde um eram dois e dois cada um. Havia névoa por todos os lados e a visão estava ligeiramente turva. Tentavam a todo custo disfarçar, ignorar o caos e seus efeitos, mas era tudo em vão. Qualquer um que olhasse para eles compreenderia o que estavam passando. Sai pelos olhos, olhares, sorrisos, palavras, menear de mãos e cabeças. Sai por todos os poros, não é possível disfarçar ou fugir, por mais que essa seja a mais desejada solução. Mas essa é uma guerra perdida.

Ninguém sobrevive ileso ao amor.

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