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Mostrando postagens de novembro, 2010

Um Ano - Dèjá Vu

{Leia os anteriores primeiro} - Amiga, preciso chorar. - O que é isso?! - Ah, preciso. Olha minha cara já! - Ai ai... mas então chora logo pra gente não se atrasar muito pra sair. Faltava uma hora pra festa mas ela precisava chorar mais. Havia começado a chorar pouco antes do banho, depois de desligar um telefonema que fez para ele. Ligou porque precisava confessar que se sentia uma ridícula por trocar uma ocasião como esta por uma festa qualquer. Pediu desculpas encharcadas de lágrimas e ainda sem entender porque chorava disse a ele: - Se estou chorando assim em formatura, imagine em casamento. - Você só não pode chorar no seu casamento, porque corre o risco de borrar a maquiagem e você vai estar linda de noiva. Gota d'agua. Aí ela precisou desligar naquele momento porque as lágrimas caíam feito cachoeira. Ela sabia que estava fugindo de ir à formatura. Fugindo de ir à formatura, de sair e de encontrar com ele em qualquer ocasião que fosse. E eu sei porquê: ainda morria de medo

Um Ano - II

{ Leia o post anterior primeiro} - Devia sim hein!... hihi - zombou a amiga mais uma vez. - Não, não devia estar. Devia estar exatamente aqui - retrucou novamente dentro do carro. Um outro amigo no banco de trás aproveitou pra implicar também, mas depois das afirmações dela o assunto morreu ali. A convicção nas palavras era mais para ela mesma acreditar que para os outros. Ela sabia que queria estar naquele outro carro, o que ele dirigia sozinho. Ela sabia, porque se sentiu meio boba quando foi perguntar porque ele havia parado o carro no meio da rua, e tinha sido por causa de um cachorro. No fundo ela queria um pretexto pra mudar mesmo de carro. Mas não queria querer. Do mesmo jeito que tinha medo de sair com ele à noite naquele dia. E se ele quisesse ficar com ela de novo? Pior, e se ela quisesse? Não podia, não podia. Melhor deixar as coisas por ali. Por sorte ele não saiu naquela noite, tudo ficou bem e eles ficaram um tempo sem se falar de novo. Bem, ela queria acreditar que se

Um Ano - I

{Leia o post anterior primeiro} Era sábado à tarde, fim de churrasco e ela voltava pra casa de carona com uma amiga. - Você deveria estar naquele carro lá - disse a amiga em tom de provocação - Ó, nem começa hein - respondeu, já meio aborrecida. Era ele quem dirigia o outro carro e fazia três meses que eles não se viam. Desde o seguinte episódio: * Estava sentada num bar com as pernas esticadas em cima das dele, recebendo carinho nos tornozelos. Carinho entre eles era algo sempre muito natural. Aí ela sentiu o calor da proximidade dos corpos. O perfume. O nariz dele no seu pescoço. O calafrio que isso fazia. Tudo como sempre acontecia, mas naquela noite, surgiu algo a mais que ninguém sabe apontar o quê, mas que estava denunciado na cara deles. Ele cochichou com mais alguém na mesa e ela se manifestou: - Fala. - Nada não - a cara dele queimando de vergonha e da vontade reprimida. - ... - É que eu pensei numa coisa - confessou completamente sem graça. - Fala, eu sei - insis

Um Ano - Prefácio

Tinha um casal parado no ponto de ônibus hoje à noite, perto da lixeira, aos beijinhos e carinhos. Desde a hora que eu pisei por lá, senti um cheiro inconfundível de sexta-feira que despertou minha memória. Mais tarde em casa, como acontece em toda virada de mês, fui limpar minha caixa de torpedos e reli mensagens recebidas a meses - que acabo nunca apagando. Senti uma saudade enorme - e essa não foi a primeira vez - de ter meu coração ardendo, como quando era eu perto da lixeira. "Outra história com um outro rosto,  Um outro beijo com o mesmo gosto,  Era cedo e não podia dar certo,  Lá vem um outro dia frio e encoberto. [...]  O tempo virou e me deu as costas,  Outra pergunta com a mesma resposta,  Os dias são sempre iguais,  O mesmo filme em todos canais. [...]  Eu quero voar mas tenho medo de altura , O céu azul me dá tontura, Eu caio mas não chego ao chão, Estou certo, mas perdi a razão. Gritar! Se foi um erro, eu quero errar sempre assim ." E isso serve perfeitament

Sem exceção

Deitei na cama com uma folha de caderno e fiquei olhando pro pedaço de céu que aparecia pela janela entreaberta. Ele encostou na janela bloqueando a visão do céu, mas com minha advertência saiu de lá e sentou na cama, perto do meu pé. Era começo de tarde e o azul estava límpido, naquele tom que causa alegria. Eu tava feliz porque sentia o cheiro dele pertinho de mim e o calor das suas mãos nos meus joelhos. Quando ele deitou com a cabeça nas minhas pernas eu li - pra mim e pra ele - o que tava escrito na folha. Quando eu era mais nova eu vi O meu pai chorando e praguejando ao vento Ele partiu seu próprio coração e Eu assisti enquanto ele tentava remontá-lo E minha mãe jurou que jamais Se deixaria esquecer E esse foi o dia que eu prometi Eu nunca cantaria sobre amor, se ele não existisse Mas querido... Você é a única exceção Talvez eu saiba, no fundo da minha alma Que o amor nunca dura E nós temos que arranjar outros meios de seguir em frente sozinhos ou manter a cabeça erguida E eu

Cubo Mágico - Final

- Você já disse pra ela como se sente? - perguntei. - Não completamente - fez uma pausa, pensou e continuou - Bem, já comentei um pouco meus pontos de vista... quando tinha sorte era como se estivesse falando pro vento, quando não tinha tanta, era motivo de discussão. Então parei de falar, prefiro evitar conflitos. - Mas esse não é bem um tipo de conflito, é sua maneira de ver as coisas, são as suas verdades. - Talvez eu mesma não soubesse quais eram minhas verdades. Juro que minha garganta secou ao ouvir isso. Afinal, não fazia muitos meses que eu conheci Aninha. Quanto tempo era preciso para uma pessoa perceber que, se a vida fosse um cubo mágico, nós mesmos seriamos as mãos que movimentam seus lados? - Acho que descobri com o pôr-do-sol - e sorriu sem graça com meio canto da boca. - Ah sim - disse ainda meio perplexa, mas sem demonstrar - Os momentos que passamos sozinhos são muito bons para conhecermos quem somos. Isso é uma coisa que a gente vai descobrindo aos poucos e tem