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Mostrando postagens de junho, 2023

Travessia

{Eu quase nunca escrevo sobre mim Sempre sobre outros, sempre sobre vida, sempre sobre sentir, mas muito pouco, sobre mim Olhar a si tão de perto, nesse processo microscópico, deixa a visão um pouco turva. Não sei se me enxergo bem, ou estou vendo coisas} Estou mais uma vez, encarando a ponte sobre o abismo. Ela sempre me encontra, ela sempre aparece. Do outro lado do vale, o mundo parece mais bonito. A diferença é bem sutil mas intensa: o nasce nasce por lá. Por isso a grama é mais vistosa, por isso tem flores mais coloridas e passarinhos nas árvores. Essa pequena diferença que é a posição do sol muda toda a configuração do lugar.  Eu andei muito pra chegar aqui. A trilha foi mata a dentro, na confiança daquele pequeno raio de sol que guiava ao nascer. A ponte, olhando pra mim. É só atravessar. Nem é tão grande, é logo ali.  Mas é passando em cima do abismo. É encarando que uma vez travessia, talvez nunca mais eu queira voltar. E porquê haveria de querer?  A ponte, olhando pra mim Um

Fresta

Depois de um tempo no escuro nossas pupilas aprenderam o ajuste necessário para enxergar pelas frestas. Se acostumaram com a pouca luz, captam os mais sutis brilhos. Não precisa mais de muita coisa pra ver, ela já enxerga. É possível, inclusive, se manter nesse espaço com muita naturalidade, se mover tranquilamente e com confiança de por onde está passando.  Não é possível ver o todo.  Não é possível ver a cor das parede e dos objetos, nem ler as longas narrativas que eles contam. Mas se você chegar bem perto de onde brilha, é possível sentir as texturas. É possível tocar e se descobrir encantada por ter outra perspectiva de algo que parecia muito diferente na luz do dia. Às vezes a gente acha que precisa de mais, mas na verdade não precisa saber muito. Tava bem escuro quando a gente cruzou nossas vidas Minhas pupilas, já ambientadas me disseram: pode tocar, isso brilha.