Despindo-se

Pouco a pouco fui me sufocando com a minha própria sorte. A gente se envolve e nem percebe como essas coisas vão acontecendo e se reproduzindo. Elas tomam forma, ganham vida própria e acabam comandando nossos instintos racionais. Não queria mais isso pra mim, não queria as perguntas sem respostas, o medo do dia seguinte e a apatia da mesma rotina. Não! Eu não queria nem um pouco a apatia da rotina e parecia que era tudo o que eu tinha. E o que eu podia fazer, se eu queria outra vida? Aquela vida na verdade, não era a minha.

Entrei em pânico e saí correndo. Tive medo que meus pés ficassem fincados para sempre naquele chão. Fui largando pelo caminho minhas roupas, minhas verdades, minha rotina. Fui me libertando da prisão do dia a dia, das amarras que criei e dos tantos projetos não concluídos. Nada importava mais, eu só queria respirar.

Muitas vezes na vida eu me senti desprotegida, mas acho que nenhuma vez foi como essa.
Existe um vazio no meu peito, no meu guarda-roupa e na minha carteira. Me despi de quem amava, das coisas que tinha, da minha segurança e da estabilidade financeira. Existem muitos vazios quando você vive uma vida que não faz sentido, uma vida que não é a sua. Tudo sufoca, tudo prende, tudo confunde. Então é preciso coragem para correr para o horizonte e ir despindo-se das coisas antigas, ir deixando tudo pra trás. É difícil, porque elas vão criando raízes na gente e quando percebemos as incertezas ficamos paralisados. É difícil mas é necessário. Não adianta insistir numa vida que não é sua. É preciso ganhar respeito, sentir-se livre, amar quem te ama, fazer a diferença. Minha vida andava tão cheia de tudo, que eu só queria esvaziá-la.

Eu chorei na hora de ir embora, chorei lendo minhas histórias, chorei ouvindo uma música e olhando as roupas enfiadas na sacola esperando um novo destino. Eu tive coragem, eu fiz.
Era como se estivesse nascendo de novo.
Como se estivesse enfim despida, correndo em direção ao horizonte e prestes a pular em um novo começo. E se quer saber, não tenho medo do que vem pela frente.
Se o destino segurar minha mão, não caio.

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