Flechada

Eu disse, repeti e repito novamente, quantas vezes for necessário: não quero me envolver seriamente com ninguém. Estou cansada de ouvir histórias que são construídas pela metade, com saídas misteriosas e estoques de segredos. Sim, eu reconheço que existe um mundo inteiro desse tipo lá fora, eu vi com meus próprios olhos, é bem verdade.
E não mudei de ideia. Continuo com medo de andar nesse território e cair justamente numa armadilha bem disfarçada. 
É natural que eu não queria andar por lá, não é?
É sim. Mas viver fugindo disso não é.

Qualquer homem que tenha se aventurado a ganhar mais espaço na minha vida descobriu que não era nada fácil. E basicamente nenhum deles obteve sucesso, diga-se de passagem. Existe uma lista de pré-requisitos necessários para ter alguma chance de conseguir um encontro e outra de requisitos fundamentais para a investidura oficial, mas nunca ninguém chegou lá. A única vez que baixei a guarda e fiz vista grossa para a inexistência de alguns requisitos já faz mais de dois anos. Acho que por aí já é possível ter uma noção das coisas.

O problema das armadilhas é que elas são preparadas para te capturar justamente quando você está desprevenido. E foi isso que aconteceu comigo. Eu estava de costas quando aquele anjinho atrapalhado soltou a flecha em mim. Por sorte ou azar, eu me virei na hora e a flechada acabou acertando do lado do meu coração. Arranquei a flecha com a mão, mas o veneno rosa com glitter que vem nela ficou no meu corpo e foi se espalhando, preparando o terreno para um ataque certeiro ao meu coração assim que tiver a oportunidade. A gente pode ser racional o quanto quiser. Até a hora que for flechada.

O pior desse veneno é que ele é gostoso e vicia. Ele te faz acreditar que isso pode ser muito bom, que é possível dar certo. Ele te deixa inquieto, te faz querer mais. É justamente por isso que sei que estou contaminada.
Quero muito mais.


[nos rascunhos desde 11/07/12]

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