Do outro lado

Não adianta eu abrir a porta, não tem ninguém lá. Me pergunto porquê eu gosto desse mistério, porquê eu gosto de saber, de me envolver com essas histórias. Por quê? Por quê?
Porque hoje esse é meu alimento. Hoje minha alma é livre da rotina, livre dos personagens do dia a dia e se alimenta de histórias alheias. Quer encontrar uma razão para viver mais, quer encontrar sua história refletida nos olhos de quem conta a própria história agora. Quer se sentir parte.
Minha alma quer entender, porque ela sabe, como nenhuma outra, mudar de posição para entender o outro.

Mas as pessoas não confiam. Ninguém dá credibilidade para minha alma livre e curiosa, que carrega abraços, sonhos, palavras de conforto e compreensão. Minha alma é da cor dos fortes, dos justos, dos trabalhadores. Minha alma é da cor daqueles que lutam com firmeza e aguardam a vitória. A cor da minha alma se funde a essas almas e me faz chegar perto. É a conexão que eu tenho com aqueles que acreditam que todo seu esforço será recompensado. Não vejo a cor da pele, não vejo os cabelos, peso ou altura. Quero compreender a história, quero conectar minha alma.
Mas confiar é difícil para os conhecidos, quanto mais para desconhecidos. As pessoas não acreditam mais na bondade, não acreditam mais que suas vidas de sacrifício sejam interessantes para alguém qualquer. Não acreditam que exista alguém ali que queira olhar de perto o que é. Como eu vou dizer que sim? Como eu vou dizer que quero ouvir, que quero entender, que quero ver se você é do bem, quero saber quantas batalhas venceu e quanto ainda falta para vencer a guerra? Eu quero ver sua vitória!

Mas do outro lado não tem ninguém.
Do outro lado, ninguém acredita que é bom contar sua história para mim, que não há riscos. Ninguém entende que assim, minha alma mendiga e faminta, conquista o equivalente a um grande prato de comida.
Alguém do outro lado, por favor, não me deixe passar fome.

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