O espírito da passarela

Certa vez precisei usar biquíni e subir numa passarela vermelha montada no meio da faculdade. Valia nota e fui com a cara e a coragem: biquíni, camiseta, bumbum de fora e meu jeito peculiar de andar. É verdade que nessas horas ponho a vergonha no bolso: adoro interpretar. O desfile foi num clima de luau, com música ao vivo e chegando na ponta da passarela não sei o que houve, mas ouvi palmas, gritinhos e um burburinho diferente. Eu havia feito algum charminho, eu sei. Mas simplesmente não sei explicar o quê foi nem o que o deu em mim. Poderia até ignorar isso mas não pude: fato recorrente. Lembrei que com 10 anos participei de uma concurso que escolhia a garota da escola. E eu tive que desfilar. Passando em frente aos jurados agi naturalmente, mas sabia que estava jogando charme. Até ouvi uns comentários de algumas meninas sobre meu comportamento, mas tinha convicção de que não havia feito nada demais.
A propósito, eu ganhei esse concurso.

Mas dessa vez foi pior.
Fui desfilar pra uma colega de classe num sábado à noite. O tema era Pin-Up e acredito que temos alguma semelhança. Me entregaram as duas saias, uma mais curta e outra rodada, junto com uma blusa, um body e um bolero. A orientação? Sorriam e façam poses de Pin-Up! Ah pra quê! Sorrir + passarela = tremedeira. Não se sabe bem o que fazer para manter a expressão natural em meio ao nervosismo.
A primeira aparição foi tranquila - só precisei levantar a saia pra mostrar o forro e fazer pose. Mas a segunda...
Estava usando o tal body quase intra-uterino de tão apertado e que era curto pro meu corpo, teimando em descer. Detalhe trágico: era tomara-que-caia. E foi só dar o primeiro passo pra passarela que senti um vento por baixo do bolero: o body estava caindo.
O.M.G.
Sem opção nem tempo pra pensar, agarrei body e bolero como quem segura os peitos pra foto e fui. Gritinhos, palmas e aquele burburinho pra Pin-Up que tomava o tapete vermelho ao som de samba, com seu jeitinho peculiar de andar e etecéteras.
Alguma coisa eu fiz, eu sei, mas de novo não faço muita ideia.
Dels, o quê acontece comigo ao pisar na passarela?

Na saída do evento um conhecido me parou. Não o via a meses, desde que fomos apresentados. Perguntei, receosa, se tinha exagerado. Ele, sorridente, disse que eu tinha sido ótima, bem no espírito do desfile, que inclusive há tempos não via um assim... e que tinha apreciado minha 'performance': ele adora ser surpreendido e eu havia feito isso.
Então fiquei me perguntando se o tal espírito da passarela não sou eu mesma na maior pureza e intensidade, já que quando piso nela não planejo nada, não penso o que fazer. Apenas me dispo dos meus pensamentos e deixo rolar.

Imagine se ele soubesse então que eu, com a cara romântica num dia qualquer, gosto de esconder singelos presentes vermelhos por baixo de elásticos de renda preta, que quando quero carrego comigo. Surpreendente?

Quero ver o dia que o espírito da passarela me achar, usando um elástico desses.

Comentários

  1. Personagem bem aflorado ou não, o importante é se divertir e marcar a memória em alguns segundos. Tanto a sua quanto a deles.;3
    Timidez e sem vergonhice todo mundo tem um pouco, o que nos deixa em dúvida é o que ativa ambos. Já me questionei horrores por que uma determinada pessoa me deixa tímida, sem ação. É o incomum e inexplicável que nos tira o sono.
    Mas vai lá exibida, arrase sempre! XD
    =*

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