Conversa com Freud

- O que te aflinges minha filha?
- Sabe doutor, acho a vida tão insolúvel e ao mesmo tempo tão gasosa. Na verdade acho a vida gasosa e as decisões insolúveis. Sabe, essas perguntas que aparecem todos os dias o dia todo e temos que passar a vida respondendo?
- As escolhas?
- Isso, essas mesmas. Sei que são elas que fazem a vida, mas às vezes fica tão chato. [silêncio, respira] Acho que sou meio confusa, não sei.
- De onde tirou essa conclusão?
- De alguns fatos que acontecem na minha vida. Isoladamente. Tá, na verdade todos os dias.
- Fatos...?
- Não sei, acho minha visão do mundo um tanto ambígua. Como nessa questão da solidez/volatilidade. Essa coisa meio naftalina. Isso! Acho que a vida é meio naftalina. Ela tá ali, sólida, visível e tocável. E daí um pouco não tá mais. Evaporou, literalmente. Fico sempre com medo dessa mudança de fase, especialmente quando analiso minha própria vida.
- Você está rodando em círculos...
- Outro problema. Muitas vezes não consigo organizar meus pensamentos em linha reta. Eles são como partículas em estado gasoso em alta pressão, chocando contra si mesmas. Tenho o hábito de criar sempre ao menos duas linhas de pensamento, uma oposta a outra pra equilibrar. Percebi que sou assim sabe, de ter sempre duas opções/opiniões/vontades/escolhas às vezes muito opostas uma da outra. Acho normal porque nenhuma das duas linhas fere meu estilo de vida, mas isso me deixa tão confusa...
- Voltemos à questão da vida. Qual seu medo?
- De não escolher a opinião certa. De escolher o lado volátil quando precisaria escolher o sólido e vice-versa. Essa escolha gera uma rede de outras situações, o senhor sabe.
- Então por que a senhorita não se decide sempre por viver de um jeito só? Sólido ou volátil, independe, mas vai acabar com as dúvidas de sempre ter que decidir na hora. O que lhe parece?
- Ah doutor... eu não saberia ser assim, não é da minha natureza. Gosto das perguntas, das decisões de última hora, dos conflitos mentais, das discussões. Isso gera maturidade, faz a mente engrandecer. Mas algumas vezes acontece da minha consciência sofrer um mal-súbito e querer fugir. Por isso eu vim aqui. Queria entender porquê, afinal, eu sou assim.
- Ah minha filha, lamento não poder ajudá-la. Tem coisas que nem Freud explica...

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