Natasha (ou Rafaelle)

Movida por uma força interior que não se sabe explicar de onde vinha, costumava aparecer nas sextas-feiras. Misteriosa, sutil e desinibida, sua presença marcava toda autoconfiança que uma mulher poderosa precisa ter. Natasha - que na época era conhecida como Rafaelle - emanava sutilmente esse poder, era algo natural. Vista, ouvida e percebida com diferentes olhares e intensidades, o efeito que ela causava entre os sexos era quase oposto. Sobre as mulheres era o esperado: piadas, deboche e aquele olhar torto de inveja queimando silenciosamente no peito delas. Já entre os homens... eram os mais variados. Dava gosto observar as diferentes reações provocadas por ela. Em geral, um misto de desejo, admiração e um pouco de inacessibilidade rodeava as conversas por ela protagonizadas.
Natasha era provocante na medida certa com seu humor afinado, comentários acidamente perspicazes e seu rosto dissimuladamente angelical. Ela é atriz e se orgulha disso. Seus jogos de sedução já levaram homens a ferir o orgulho ou até mesmo perdê-lo. É também excelente jogadora. Nunca abaixou nariz, crista ou voz pra qualquer homem que fosse e talvez tenha sido isso que a tornou tão interessante: media a força das palavras e falava olhando nos olhos, mostrando-se de igual pra igual. E a gente bem sabe que homem é caçador e adora um desafio. E digo mais: nenhum desses que tiveram o privilégio de atravessar o caminho de Natasha conseguiram esquecê-la.
Fato.
Ela é viva demais, intensa demais, delícia demais pra passar despercebida. Cada um desses homens levou consigo rastros de Natasha. Sim, ela deixa marcas - sutis como ela. Vez ou outra a gente vê num reaparecimento (ou tentativa de reaproximação) o disfarce de um suspiro dado no escuro - lembrando de cheiros, tateando mãos ou rindo de canto do gosto venenosamente doce do sarcasmo daquela que, um dia, esteve ao seu alcance. Esteve, querido, é verbo no passado.
Alguns ainda alimentam o desejo secreto de ter atenção dela novamente. Mas devo informar-lhes que uma vez integrante da lista "passado", baby, game over.
Só que isso tudo não aconteceu por agora. A pouco mais de ano Natasha sumiu sem deixar vestígios. Sempre foi uma grande companheira pra mim e sinto uma imensa falta dela, mas respeitei sua decisão porque conheço seu instinto de liberdade.

Num telefonema que não durou 50 segundos antes de cair, tive tempo apenas para ouví-la dizer: "Não avise aos sangue-fresco, porque eu me divirto com os desavisados, mas quero comunicar que Rafaelle está de volta."
E foi só.
Digo, foi tudo.
Porque se tratando de Natasha, isso já é mais que o bastante.

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