Dias depois da Ana...

Ela saiu de trás do espelho depois de toda rotina de beleza que ela ama e que tinha caprichado mais uma vez. Conheço poucas pessoas que gostem tanto da própria companhia como ela.
Mas conheço muitas que gostam da companhia dela.

A menos que tenha um bom motivo, ela diz que sábado à noite não é hora de ficar em casa. Nem sextas, quintas, quartas ou quando der na telha.

Estava anoitecendo quando ela saiu. Depois do banho e do perfume, o cheiro era de perigo. Doce e suave perigo, como podemos caracterizar seu cheiro. Apagou a luz do quarto, mas a da imaginação estava acesa. E não há o que a divirta mais, pra começar, do que sua própria imaginação.

E mesmo sem saber no que ia dar, ele continuava brincando com ela como se isso não oferecesse perigo. Ah... se ele soubesse que a brincadeira iria trazê-la assim vestida num preto transparente, dissimulado como a própria dona, que quase se passa por sólido e mexe com as mentes... Talvez não haja o que temer se o pior a perder é o juízo. E disso eles gostam.

Certa vez alguém a levou para experimentar comida japonesa. Antes ela disse que não gostava, mas aceitou. Agora acho que não é só a comida que ela aprova. Ah... a imaginação dessa mulher! Haviam dois rostos, ou três, que vagavam misturados e eu não arriscaria pedir para ela apontar um. Mas adoraria ouvir cada cantinho de pensamento.

~ Você pode me ver do jeito que quiser, eu não vou fazer esforços pra te contrariar
De tantas mil maneiras que eu posso ser, estou certa que uma delas vai lhe agradar

Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço, faço ela rodar
Sei que não sou santa, às vezes vou na cara dura
Às vezes ajo com candura pra te conquistar
Aprendi a me virar sozinha e se eu tô te dando linha...

{Rosas / Garganta}

Era sábado à noite... sapato e unhas vermelhas e o transparente do preto que poderia mostrar uma borboleta, não fosse umas bolinhas. Mas depois da Ana, não posso garantir se ele não viu.

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