Nana

O que a Nana fez aquele dia girou meu mundo.
Chegou ao meu lado trazendo dois drinks, exalando aquele inconfundível cheiro de doçura e perigo. Eu estou solteiro há alguns meses e confesso que já tive uma queda por ela. Na verdade tivemos alguns rolos pelo caminho, mas eu sempre tenho medo de tudo. A Nana era a mulher capaz de fazer qualquer homem se sentir completo, eu tinha certeza. Mas eu ainda não tinha certeza se eu estava pronto para ser esse homem (e nem para ser completo). E eu também morria de medo de perdê-la... por isso preferia fingir que não queria tê-la. Sabe, não teve uma vez sequer que Nana estivesse ao meu lado que eu não tenha sido contagiado pela intrigante e deliciosa energia que ela emana. Poderia dizer que ela carrega um sol caloroso e uma brilhante constelação dentro de si.
Papo vai, papo vem, estamos nós aqui de novo.
Ela balançou a cabeça levemente para arrumar os cabelos para trás e me entregou meu drink. Estava irresistível como sempre.
- Um brinde - sugeriu.
- Ao quê?
- À melhor fase da nossa vida, que tem prazo pra acabar e por isso não devemos tardar em começar - seus olhos me derretiam de um jeito insuportável. Ao fundo, começou a tocar Sex on Fire do Kings of Leon (devemos ter algum pacto com essa música) - Não sei quanto tempo você ainda vai ficar por aqui...
- Acho que uns 8 meses mais ou menos, até ver como as coisas vão ficar.
- Então. Você tem 8 meses pra curtir as melhores festas, as piores, conhecer muitas garotas, se arrepender disso algumas vezes, ficar bêbado algumas outras e se meter em situações inesperadas.
Não, a Nana não podia mesmo estar falando sério! Ela era a mulher que despertava em mim o mais confuso desejo e eu podia jurar que ela ia se aproveitar do momento para dar um jeito de me aprisionar. Senti um misto de alívio, decepção e euforia. Com isso, quase disse num impulso que ela era tudo o que eu queria, para sempre. Olhei pro horizonte, respirei fundo e engoli a vontade.
- Eu sei disso - ela disse, lendo meus pensamentos. Nós rimos - Mas qualquer que seja sua decisão, ela pode esperar alguns meses.
Agora foquei meu copo, meio reticente, sem saber se isso era uma pegadinha ou um presente.
- O que você quer Nana? - perguntei, expondo claramente minha dúvida, tentando entender a verdade.
- Eu só quero estar com você. Quero aproveitar essa fase sabe? Sem me preocupar com futuro ou nomenclaturas... acho que na verdade...eu quero mesmo é emoção - e piscou um olho com aquela cara sapeca. Meu Deus, pára de ser linda assim! - Você sempre disse que um dia a gente ia se reencontrar num bar, lembra Rick? Talvez esse dia seja hoje - piscou de novo, riu e levantou seu copo - À melhor fase da nossa juventude!
Aí foi demais pra mim. Minha resposta subiu pra boca.
- Nossa Nana, eu quero ficar a...- ia dizendo que queria ficar com ela a vida inteira quando colocou o dedo sobre meus lábios, me interrompendo.
- Shhhh... não fala - aproximou-se do meu ouvido e sussurrou: - Algumas verdades não devem ser ditas para que possamos realizá-las.
Afastou-se lentamente, descendo os dedos pelo meu braço, me olhou nos olhos, sorriu com uma satisfação maliciosa, encostou seu copo no meu e deu um belo gole. Eu, que ainda estava atônito com tudo e apresentava uma ridícula cara de idiota, soltei a gargalhada de confusão que ela adora e percebi nossos olhos brilhando. Dei um gole, passei o braço de um lado ao outro nas costas dela e a puxei pro meu peito.
Fazendo cara de indiferentes mas queimando de alegria, nos beijamos.

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