Da cumbuca
"Mantenha sempre o que é essencial para sua vida. Livre-se apenas do supérfluo"
Toda semana quando vou às aulas de flamenco, eu tiro um papelzinho da chamada "cumbuca cigana". Hoje foi essa frase aí que saiu.
Eu sinto tanta vontade de estar com você que não é possível que isso seja supérfluo. Pra mim, supérfluo é algo muito bom, que te dá prazer, te satisfaz, mas que popularmente falando, você não vai morrer se ficar sem. Tipo o iogurte petit suisse nas compras do mês.
Daí eu fiquei me perguntando o que você é pra mim, já que de certo modo, ainda tento me livrar de você.
Confesso que faço mesmo de tudo pra te eliminar da minha vida. Ponto. Apago mensagens de texto, escondo fotos, guardo os presentes que me deu e evito ir aos mesmos lugares que você frequenta. Repito pra mim mil vezes que você nunca gostou de mim, não do jeito que você fazia parecer. Era tudo armação masculina pra me manter sob seu domínio.
Lembro bem da vez que você me cantou "Leve seu amor, dele eu não preciso" com olhos tão frios e impiedosos que, se não foi verdade, foi uma mentira muito bem ensaiada. Ah é, você não é ator.
Daquele dia em diante eu nunca mais fui a mesma e desde então eu fico tentando entender o que você é pra mim. E eu não sei.
Se é supérfluo, eu não deveria sentir que uma parte de mim fica doente quando você some. Mas ao mesmo tempo, cada vez que você volta eu fico inquieta e me questiono se vale mesmo a pena continuar. Ou se seria melhor deixar isso na prateleira. No fundo tenho certeza que é puro capricho seu, como se eu fosse o petit suisse da sua tediosa lista de compras.
No final das contas, acho que minha maior tristeza é saber que depois de dividir com você tudo o que foi possível - minha cama, seu colchão, uma escova de dentes, sanduíches, ligações telefônicas, livros especiais, presentes, madrugadas, mãos, brigadeiros, beijinhos, sonhos, delírios, delícias, medos, inseguranças, paixão, toalhas de banho, passeios de carro, ilusões e nossos corações - eu e você vamos atravessar uma linha imaginária e seguir em caminhos diferentes. Como se tudo o que a gente viveu e dividiu não tivesse um peso tão grande quanto sentimos ter. Corta meu coração saber que será uma outra qualquer que vai dividir a cama, o colchão e as contas com você. E eu ainda serei obrigada a digerir a presença dela no jantar, como se o fato de ela ser legal superasse minha repulsa. Corta meu coração saber que eu continuo vagando pelas ruas dos solitários procurando companhia, sem saber o dia que algum coração vai se colocar entre nós e me raptar pro mundo dele. E você vai sentir um aperto no peito quando me vir vestida de noiva e for obrigado a digerir a presença dele no jantar, como se o fato de ele ser muito bom pra mim superasse sua repulsa e o desejo de fazê-lo sumir. Só pra eu voltar correndo pro calor dos seus braços e começar tudo de novo.
Numa história que não termina nunca.
Porque a gente bem sabe: só é possível terminar algo se este, algum dia, tiver começado.
Toda semana quando vou às aulas de flamenco, eu tiro um papelzinho da chamada "cumbuca cigana". Hoje foi essa frase aí que saiu.
Eu sinto tanta vontade de estar com você que não é possível que isso seja supérfluo. Pra mim, supérfluo é algo muito bom, que te dá prazer, te satisfaz, mas que popularmente falando, você não vai morrer se ficar sem. Tipo o iogurte petit suisse nas compras do mês.
Daí eu fiquei me perguntando o que você é pra mim, já que de certo modo, ainda tento me livrar de você.
Confesso que faço mesmo de tudo pra te eliminar da minha vida. Ponto. Apago mensagens de texto, escondo fotos, guardo os presentes que me deu e evito ir aos mesmos lugares que você frequenta. Repito pra mim mil vezes que você nunca gostou de mim, não do jeito que você fazia parecer. Era tudo armação masculina pra me manter sob seu domínio.
Lembro bem da vez que você me cantou "Leve seu amor, dele eu não preciso" com olhos tão frios e impiedosos que, se não foi verdade, foi uma mentira muito bem ensaiada. Ah é, você não é ator.
Daquele dia em diante eu nunca mais fui a mesma e desde então eu fico tentando entender o que você é pra mim. E eu não sei.
Se é supérfluo, eu não deveria sentir que uma parte de mim fica doente quando você some. Mas ao mesmo tempo, cada vez que você volta eu fico inquieta e me questiono se vale mesmo a pena continuar. Ou se seria melhor deixar isso na prateleira. No fundo tenho certeza que é puro capricho seu, como se eu fosse o petit suisse da sua tediosa lista de compras.
No final das contas, acho que minha maior tristeza é saber que depois de dividir com você tudo o que foi possível - minha cama, seu colchão, uma escova de dentes, sanduíches, ligações telefônicas, livros especiais, presentes, madrugadas, mãos, brigadeiros, beijinhos, sonhos, delírios, delícias, medos, inseguranças, paixão, toalhas de banho, passeios de carro, ilusões e nossos corações - eu e você vamos atravessar uma linha imaginária e seguir em caminhos diferentes. Como se tudo o que a gente viveu e dividiu não tivesse um peso tão grande quanto sentimos ter. Corta meu coração saber que será uma outra qualquer que vai dividir a cama, o colchão e as contas com você. E eu ainda serei obrigada a digerir a presença dela no jantar, como se o fato de ela ser legal superasse minha repulsa. Corta meu coração saber que eu continuo vagando pelas ruas dos solitários procurando companhia, sem saber o dia que algum coração vai se colocar entre nós e me raptar pro mundo dele. E você vai sentir um aperto no peito quando me vir vestida de noiva e for obrigado a digerir a presença dele no jantar, como se o fato de ele ser muito bom pra mim superasse sua repulsa e o desejo de fazê-lo sumir. Só pra eu voltar correndo pro calor dos seus braços e começar tudo de novo.
Numa história que não termina nunca.
Porque a gente bem sabe: só é possível terminar algo se este, algum dia, tiver começado.
Aaaiinnn. Maldade demais isso.
ResponderExcluirTenso, mas as vezes é melhor esquecer algo pra começar um algo que por sua vez possa ser muito melhor!
ResponderExcluir:*