E eu que pensei que era o fim...

Ele me encontrou e disse que precisava conversar comigo. Eu pensei em mil coisas que ele pudesse querer me falar e no fundo tinha uma ideia do que afinal, poderia ser. Bem, se ele não falasse sobre isso, eu mesma teria que fazê-lo. Era quase inevitável.

Na última vez que nos falamos ele tinha dito que pensava em ficar só comigo, mas tinha medo. Seu coração começava a arder por mim e sentir que o controle que ele sempre teve sobre as coisas estava escorregando entre seus dedos foi como um vento gélido nos calcanhares. Eu olhei pra ele e me vi, como se nossos sentimentos estivessem em lados opostos de um espelho, reflexos. Apesar de gostar do coração ardendo, também sentia frio nos calcanhares, o que me fez decidir que se ele não falasse, eu teria mesmo que fazê-lo.

Quando o encontrei, senti que fazia um esforço imenso para estar ali e ter a conversa que pretendia. Foi fácil perceber porque ele não penteou os cabelos, nem passou perfume e colocou a primeira roupa que viu pela frente. Mas seus olhos se derreteram ao me ver e ele se arrependeu das escolhas nesse mesmo instante, enquanto se envergonhava de me ver observando seus tênis estilo "ensino fundamental". Talvez ele até tivesse ensaiado o que devia falar pra mim em frente ao espelho, pra não esquecer.
Só que temos um problema com amnésia temporária e tentamos ir embora sem falar o que tínhamos que dizer. Mas fugir não ia adiantar. Fui forte e cutuquei, até arrancar nossas intenções para aquele encontro.
E se naquela última vez que saímos nossos olhos brilhavam estrelas e os sorrisos meio bobos ficaram agarrados no canto do rosto, agora nada disso se fazia presente, mas garantimos a sensação de dever cumprido. Era melhor não nos vermos mais.
Eu pensei que era o fim.

Sumimos quase três semanas até sermos colocados frente a frente pelo destino, ainda meio sem jeito, sem graça. Havia uma parede fina de superfície frágil e ligeiramente fria entre nós, esperando para ser quebrada. Dividíamos um sofá na casa de um amigo em comum.
- Eu quero - ele disse.
- Quer o quê?
- Quero ficar aqui - falou com a mão no meu ombro, eu deitada perto do colo dele.
- Não quer nada.
- Quero sim.
Olhei pro teto e tentei não pensar.
- Não gosto quando a gente some. Não gosto das coisas assim - falei meio desanimada.
- Não vamos mais sumir. Tá tudo bem, tudo bem.
E aí ele me abraçou, e me deu um beijo.

Eu disse que era melhor não nos vermos mais? Talvez seja mesmo melhor pra alguém, mas definitivamente, não é o melhor pra gente.

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