Berlim

Vi o muro.
Olhei para os lados e não enxerguei mais nada além do concreto.
Não podia estar ao seu lado e não podia fugir.
Foi como se tivéssemos construído nossa história num castelo de areia na beira do mar.
A maré encheu e derrubou. Ficamos observando atônitos os contornos que sobraram dele e as ondas passando por cima, sem saber direito o que fazer daquilo.

Assisto à sua vida de longe, do outro lado do muro. Daqui não dá pra ouvir sua voz, nem sentir seu cheiro ou o calor da sua pele. Mal consigo ver sua silhueta e sua imagem parece congelada como fotografia. E é.
Outras pessoas entraram na sua vida, riem com você e te chamam pra sair. São outras mulheres que te mandam beijos, desenham corações e conversam com você de madrugada. Eu sei, nesse momento não tem espaço pra mim.

Minha vida também é outra. Cansei das ligações ilimitadas, das conversas por torpedo e da ânsia que dá ao ver o celular piscando. Ou pelo menos me acostumei a achar isso chato. Outras pessoas entraram na minha vida, riem comigo e me chamam pra sair. Às vezes eu aceito, em outras estou cansada demais. Não sei mais ficar acordada até o sol nascer e nem tenho vontade de saborear minhas margaritas. Ou então não tenho motivo que valha. Descobri que quero aprender a ser alguém mais forte e desapegada do que eu sou, um pouco desse seu jeito que eu nunca entendi. Mas agora sei, é questão de necessidade.
Se a gente estivesse perto, perguntaria a você como aprendeu a ser assim e aí usaria meia dose. Já seria suficiente. Quero me manter doce e feminina.

Do meu lado do muro, a Alemanha comunista tenta se reerguer para causar uma revolução pós-guerra interna e descobre que houve fraude na construção dos seus alicerces. Não sabemos apontar as causas e os conflitos permanecem.
Do seu lado, a Alemanha capitalista se sente segura o suficiente para agir da maneira que bem entender, sem se incomodar com o barulho alheio. Seus alicerces estão seguros, mas também há rumores de conflitos.

Apesar de termos desenvolvido nossas bases em contextos diferentes que acabaram por nos colocar frente-a-frente em lados opostos e compreendermos a complexa disparidade cultural que existe nisso, ainda temos ideais em comum o suficiente para sermos uma só nação.
Aguardo o que vem a seguir na história.

Em outras palavras, não vejo a hora desse muro cair.

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