Pesadelo

Ele me buscou em casa no fim da tarde de sábado para irmos juntos a uma festa na casa de um amigo dele que eu ainda não conhecia. Fazia dias que a gente não se via mas eu tentava disfarçar a saudade. Simplesmente não via a hora de passar um tempo com ele.
Chegando na festa percebi que não conhecia absolutamente ninguém que estava lá, e quis ir ao banheiro para conferir o visual. Só que quando eu voltei ele não estava mais lá. Nem ele nem ninguém, como se a festa tivesse mudado de lugar no exato instante em que saí dela. Liguei para ele desesperada de solidão, mas o máximo que consegui foi ouvir um som e gargalhadas ao fundo, antes da ligação desligar. Liguei de novo mas ele não atendeu. De novo e o telefone já estava desligado. Não fazia ideia de onde eu estava e nem de como iria embora. Me senti a mais idiota e abandonada do mundo, o que cortou cada pedaço de mim. Uma dor profunda me invadiu e num susto, eu acordei.

Deitado ao meu lado ele continuava lá, dormindo tranquilamente na minha cama de casal e com os dedos da mão esquerda entrelaçados aos meus. Soltei minha mão de levinho para não acordá-lo, encostei na cabeceira da cama e sem perceber já estava chorando. Ele logo acordou e eu disfarcei o choro mas quando ele me abraçou as lágrimas tomaram conta dos meus olhos novamente.
- Que houve meu bem? - perguntou sem entender
- Eu tive um pesadelo.
- Me conta, como foi?
- Não quero dizer.
- Foi com o bicho papão? Ele tava vestido de dançarina de Can-Can né? - quis brincar.
- Não. Sonhei que você me abandonava - e entendi que esse era hoje, um dos meus maiores medos.
- Meu Deus! - disse surpreso e meio sem entender o que andava acontecendo comigo.
- Eu não quero ter que te perder - solucei no peito dele.
- Você não vai me perder porque eu também não quero te perder. Eu te amo, é por isso que a gente tá aqui.
Olhou nos meus olhos, beijou minha testa e me deu um abraço com gosto de proteção, querendo dizer que ele não consegue suportar a ideia de me perder.

Acho que hoje, também pra ele, me perder deve ser um dos seus maiores medos.
Ainda bem que quando acordamos vemos que o outro continua deitado ao lado, com os dedos entrelaçados aos nossos e entendemos que tudo não passou de um terrível pesadelo.

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