Mudando a fôrma
Quando o fardo ficou pesado demais, pensei em parar. Foi uma dor profunda, igual ou maior da que sentia ao andar com o fardo nos ombros. Doeram meus joelhos, pés, coluna, ossos da saboneteira, cabeça e senti uma fisgada profunda no coração. Nunca paro. Nunca desisto. Nunca volto atrás. Mas esses poucos segundos de decisão repentina me tiraram a visão e me perdi do caminho. O fardo pesou de vez e precisei sentar em meio ao nada. Sabia que estava cheio lá pois ouvia as vozes de muitas pessoas num desarranjo caótico, mas não conseguia vê-las. Pareciam todas tão iguais que não conseguia distinguir nenhuma. Não queria ficar ali, não queria me misturar àquela multidão sem cara, aos fabricantes de vidro que Gaarder falou. Não quero ser qualquer um, não quero ser só um número, me recuso. Quero ser Curinga. Faz um tempo que comecei essa aventura em meio ao deserto de rostos iguais e muitos acharam que entrar nesse caos seria a coisa mais difícil que eu tinha pela frente. Que nada. Para...